Cervicalgia
Quadro clínico
A anamnese e o exame objetivo são fundamentais. O primeiro passo na avaliação é orientado para a detecção de clínica sugestiva de cervicalgia referida, cervicalgia irradiada, mielopatia espondilótica ou cervicalgia sintomática causada por outras patologias.
Dor cervical referida
Ocorre como sintoma de afecções não raquidianas. As causas mais frequentes são: patologia do ombro; patologia ORL ou esofágica (ex. adenopatia cervical, hérnia do hiato); patologia vascular (dissecção da carótida ou da vertebral); lesões do SNC. A história clínica orienta para o diagnóstico da patologia principal. O exame da coluna cervical é geralmente normal e os exames complementares de diagnóstico são efetuados de acordo com a clínica.
Cervicalgia irradiada por radiculopatia
Caracteriza-se por irradiação da dor para o membro superior (cervicobraquialgia) ou para a cabeça (nevralgia occipital). Acompanha-se de queixas neurológicas. Resulta da compressão radicular, causada geralmente por hérnias discais em idades mais jovens e por patologia degenerativa em idades mais avançadas.
Mielopatia espondilótica
Complicação grave da artrose cervical que surge geralmente após os 60 anos. A dor habitualmente não é o sintoma principal. O quadro típico é a instalação de uma paraparesia espástica e de alterações sensitivas nos membros superiores com distribuição polirradicular e bilateral. O sinal de Lhermite (dor tipo choque ao longo da coluna e membros com a flexão cervical) é muito típico. O exame de primeira linha nesta patologia é a RMN e o tratamento é frequentemente cirúrgico.
Causa | Patologiaspossíveis | Características clínicas |
Doenças infecciosas | Espondilite e espondilodiscite (bacteriana,tuberculosa, brucélica). | Frequentes em doentes imunodeprimidos, com infecções concomitantes ou após gestos locais.A cervicalgia é intensa, inflamatória, com rigidez articular e sinais gerais associados (febre, arrepios, etc.). Nas fases iniciais as radiografias podem ser normais, sendo necessário fazer TAC e/ou RM. O |
Doenças inflamatórias | AR | 30% dos doentes com AR têm cervicalgia que se caracteriza por ritmo inflamatório e rigidez matinal. Pode dever-se a subluxação ou luxação atlanto-odontoideia anterior (ou vertical). Raramente podem surgir complicações neurológicas. A radiografia cervical de perfil em flexão permite o diagnóstico. |
EA, outras espondilartropatias | Cervicalgia de ritmo inflamatório com rigidez acentuada, sensível aos AINE, em doentes com história familiar de espondilartropatias, uveítes, diarréias, psoríase e atingimento global do ráquis e articulações | |
Neoplasias | Tumores benignos | São raros e a sintomatologia pode surgir por compressão local: |
Tumores malignos | Frequentemente são metástases de neoplasias (mama, próstata, pulmão, | |
Traumatismos | Lesões com ou sem fratura | Cervicalgia após traumatismo. Após acidentes de viação, mesmo na ausência de fatura podem surgir as lesões “em chicote”: dor cervical intensa, contratura, perda de mobilidade, cefaléia occipital e vertigens, fadiga e déficit neurológico. |
Doenças metabólicas | Osteoporose, osteomalácia, hiperparatireoidismo e D. óssea de Paget | Cervicalgia aguda causada por microfratura ou achatamento vertebral. O contexto clínico e o Rx evidenciam o diagnóstico. |
Lesões do SNC | Tumores intramedulares, siringomielia, lesões vasculares | Cursam com clínica causada por compressão intra-raquidiana ou características da doença neurológica. |
Causas psicogênicas | Depressão, ansiedade | Cervicalgia geralmente difusa, mal definida. Ausência de alterações no exame objetivo. Quadro de sintomas psiquiátricos associado. |
Cervicalgia comum
As cervicalgias mais frequentes são as cervicalgias comuns que se diagnosticam após exclusão dos quadros anteriores e se caracterizam por dor cervical associada a perturbações estáticas e posturais, miofasciais ou osteoarticulares degenerativas. Evoluem de modo intermitente e pode dever-se a envolvimento dos segmentos superiores, com irradiação ocasional para a região suboccipital (nevralgia de Arnaud), médios ou inferiores (com irradiação frequente para a região dorsal alta). Os episódios dolorosos agudos manifestam-se frequentemente por quadros de torcicolo, com contratura muscular e posição antálgica em flexão lateral e rotação. Nos restantes períodos a clínica é pobre. A radiografia simples pode mostrar alterações da estática ou sinais de osteoartrose. No entanto, a cervicartrose só deve ser considerada responsável pela cervicalgia após exclusão de outras causas, pois não existe paralelismo entre os sinais radiológicos e a sintomatologia.
As perturbações das curvaturas cervicais fisiológicas e as posturas incorretas prolongadas são causa importante de cervicalgia, pelo que devem ser procuradas e corrigidas.
Outras causas frequentes de cervicalgia são as síndromes miofasciais que se caracterizam por dor e contratura muscular exacerbadas por pressão nos “pontos-gatilho”. Acompanham-se de limitação da rotação ipsilateral e flexão contralateral, sendo o exame neurológico normal. As mais frequentes são: síndrome dos músculos cervicais posteriores, do elevador da omoplata e do trapézio.
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