Alterações fisiológicas durante a gestação
Diversas alterações ocorrem
durante a gravidez, portanto um bom entendimento delas acaba favorecendo o
profissional de fisioterapia e de educação física a orientar de forma eficiente e segura a mulher
que se propõe a praticar exercício físico durante a gestação.
Alterações Hormonais
Mudanças significativas no
perfil endócrino ocorrem durante a gestação, destacando-se quatro hormônios que
desempenham um papel fundamental para a mãe e para o feto. Dois desses são os
hormônios sexuais femininos estrogênio e progesterona, os quais são secretados
pelo ovário durante o ciclo menstrual normal, passando a ser secretados em
grandes quantidades pela placenta durante a gestação. Outros dois
importantíssimos são: a gonodotrofina coriônica e a somatomamotropina coriônica
humana.
Estrogênio - As principal funções do estrogênio são promover:
proliferação de determinadas células (por exemplo, células musculares lisas do
útero), aumento da vagina, desenvolvimento dos grandes e pequenos lábios,
crescimento de pelos pubianos, alargamento pélvico, crescimento das mamas e de
seus elementos glandulares além de deposição de tecido adiposo em áreas
específicas femininas, tais como coxas e quadris. Ou seja, o estrogênio é
responsável por desenvolver as características sexuais femininas. Durante as primeiras
15-20 semanas de gravidez o corpo lúteo, responsável pela secreção do
estrogênio e da progesterona, aumenta a secreção desses dois hormônios em duas
a três vezes o normal, porém após a décima sexta semana a placenta passa a
secretar esses hormônios, aumentando de forma drástica sua produção e fazendo
com que a secreção de estrogênio fique cerca de 30 vezes maior que o normal.
Durante a gravidez o estrogênio provoca uma rápida proliferação da musculatura
uterina, aumento acentuado do crescimento do sistema vascular para o útero,
dilatação do orifício vaginal e dos órgãos sexuais externos e relaxamento dos
ligamentos pélvicos permitindo assim uma maior dilatação do canal pélvico o que
facilita a passagem do feto no momento do nascimento. O estrogênio também é responsável
por uma maior deposição de tecido adiposo nas mamas (algo em torno de ½ quilo)
fazendo com que elas cresçam, aumentando o número de células glandular e
tamanho dos ductos.
Progesterona - Ao contrário do estrogênio, a progesterona
praticamente não exerce influência sobre as características sexuais femininas,
mas sim sobre o preparo do útero para receber o óvulo fertilizado e da mama
para secreção do leite. Durante a gestação, a progesterona atua
disponibilizando para o uso do feto, nutrientes que ficam armazenados no
endométrio. A progesterona também é responsável pelo efeito inibidor da
musculatura uterina, uma vez que se isso não ocorresse, as contrações
expulsariam o óvulo fertilizado ou até mesmo o feto em desenvolvimento. As
mamas também recebem influência da progesterona, fazendo com que os elementos
glandulares fiquem ainda maiores e formem um epitélio secretor, promovendo a
deposição de nutrientes nas células glandulares.
Gonodotrofina coriônica - A função desse hormônio é manter ativo o corpo
lúteo durante o primeiro trimestre. Sem o corpo lúteo em atividade a secreção
de progesterona e estrogênio seria afetada e assim o feto cessaria seu
desenvolvimento e seria eliminado dentro de poucos dias. Após o primeiro
trimestre a remoção do corpo lúteo já não afeta mais a gravidez uma vez que a
placenta fica responsável pela secreção de estrogênio e progesterona em
quantidades muito elevadas. A concentração máxima de gonodotrofina coriônica
acontece aproximadamente na oitava semana, justamente o período que é essencial
impedir a evolução do corpo lúteo.
Somatomamotropina
coriônica humana - Esse hormônio é
responsável principalmente pela nutrição adequada do feto, diminuindo, dessa
forma, a utilização da glicose pela mãe e tornando-a disponível em maior
quantidade para o feto. Ocorre também uma mobilização aumentada de ácidos
graxos do tecido adiposo materno, elevando a utilização dos mesmos como fonte
de energia em lugar da glicose.
Outro efeito desse hormônio
é auxiliar o crescimento fetal, efeito esse semelhante ao do hormônio do
crescimento, contudo esse efeito é relativamente fraco. A maioria das glândulas
endócrinas é alterada. A exemplo disso tem a tireóide também afetada, imitando
assim os efeitos do hipertireoidismo, causando sintomas como: taquicardia,
palpitações, respiração excessiva, instabilidade emocional e aumento da
glândula tireóide. Mas em apenas 0,08% das gestantes ocorre realmente o
hipertireoidismo. É comum ocorrer aumento dos hormônios adrenais, o que
provavelmente pode contribuir para o surgimento de estrias róseas de pele.
Níveis aumentados de glicocorticóides, estrogênios e progesterona modificam o
metabolismo da glicose aumentando assim a necessidade de insulina. A insulinase
produzida pela placenta pode afetar as necessidades de insulina provocando em
muitos casos a diabetes gestacional.
Alterações
Cardiovasculares
O débito cardíaco (DC)
aumenta cerca de 30-50% iniciando esse aumento por volta da 16ª e atingindo o pico
por volta da 24ª semana. Após a 30ª semana o DC pode diminuir um pouco, pois o
útero aumentado obstrui a veia cava. Com o DC aumentado, a freqüência cardíaca
aumenta de 70bpm, em média, para 80-90bpm, acompanhado de um aumento
proporcional no volume de ejeção. O volume sanguíneo também aumenta
proporcionalmente com o DC.
Alterações Renais
A taxa de filtração
glomerular (TFG) e o fluxo plasmático renal (FPR) são aumentados durante a
gravidez e esses aumentos são relacionados ao aumento do DC, diminuição da
resistência vascular renal e aumento dos níveis séricos de alguns hormônios. O
aumento da excreção urinária de glicose, aminoácidos, proteínas e vitaminas é
conseqüência dos aumentos da TFG e do FPR.
O volume renal aumenta em
até 30% além do normal. O aumento da TFG geralmente causaria uma grande perda
de sódio, porém fatores mitigantes resultam na manutenção da homeostase deste
mineral, inclusive atuando sobre seu metabolismo e resultando numa leve
retenção deste mineral. Como a função renal é muito sensível à postura durante
a gravidez, geralmente aumentando a função na posição supina e diminuindo na
posição vertical, a mulher grávida pode sentir necessidade freqüente de urinar
quando tenta dormir.
Alterações Pulmonares
Os estímulos hormonais de progesterona
e problemas posicionais causados pelo aumento do útero são os responsáveis
pelas alterações na função pulmonar. Ocorre aumento do PO2 e diminuição do
PCO2, causando hiperventilação. A circunferência torácica aumenta cerca de
10cm.
Alterações
Gastrintestinais
Devido à pressão do útero em
crescimento contra o reto e a porção inferior do cólon pode acontecer
constantemente constipação (intestino preso). Regurgitação e azias também são
queixas comuns durante o período gestacional, isso é causado pelo retardamento
no tempo de esvaziamento gástrico e do relaxamento do esfíncter na junção do
esôfago com o estômago, com conseqüente refluxo do conteúdo gástrico. O
relaxamento do hiato diafragmático também contribui com essas queixas.
Geralmente a gravidez pode
ser medida por trimestres, mas esses trimestres têm uma duração desigual uma
vez que o terceiro trimestre varia de acordo com o tempo total da gravidez.
Primeiro Trimestre (Semana 1 A 12) A taxa metabólica aumenta em 10-25%,
acelerando todas funções corporais.
O ritmo cardíaco e
respiratório aumenta à medida que mais oxigênio tem que ser levado para o feto
e mais dióxido de carbono é exalado. Ocorre expansão uterina pressionando a
bexiga e aumentando a vontade de urinar. Aumento do tamanho e peso dos seios,
além de aumentar a sensibilidade dos mesmos logo nas primeiras semanas. Surgem
novos ductos lactíferos As auréolas dos seios escurecem e as glândulas chamadas
de tubérculo de Montgomery aumentam em número e tornam-se mais salientes. As
veias dos seios ficam mais aparentes, resultado do aumento de sangue para essa
região. Segundo Trimestre (Semana 13 A 28)
Retardamento gástrico
provocado pela diminuição das secreções gástricas, essa diminuição é resultado
do relaxamento da musculatura do trato intestinal. Esse relaxamento também provoca
um número menor de evacuações. Os seios podem formigar e ficar doloridos.
Aumento da pigmentação da
pele, principalmente em áreas já pigmentadas como sardas, pintas, mamilos. As
gengivas podem se tornar esponjosas devido à ação aumentada dos hormônios.
O refluxo do esôfago pode
provocar azia, devido ao relaxamento do esfíncter no alto do estômago.
O coração trabalha duas
vezes mais do que uma mulher não grávida e faz circular 6 litros de sangue por
minuto.
O útero precisa de 50% a
mais de sangue que o habitual. Os rins precisam de 25% a mais de sangue do que
o habitual. Terceiro Trimestre (Semana 29 Em Diante) A taxa de ventilação
aumenta cerca de 40%, passando de 7 litros de ar por minuto da mulher não
grávida para 10 litros por minuto, enquanto o consumo aumenta apenas 20%. A
maior sensibilidade das vias respiratórias pode causar falta de ar. As costelas
são empurradas para fora decorrente do crescimento fetal.
Os ligamentos inclusive da
pelve ficam distendidos, podendo causar desconforto ao andar.
Desconforto causado pelas
mãos e pés inchados, podendo ser sinal de pré-eclâmpsia.
Podem ocorrer dores nas
costas devido a mudanças do centro de gravidade e por um ligeiro relaxamento
das articulações pélvicas. Os mamilos podem secretar colostro.
Aumenta a freqüência e
vontade de urinar. Aumenta a necessidade de repousar e dormir.