Interpretação da radiografia de tórax pediátrica na emergência
A radiografia de tórax é um
método rápido, simples e de baixo custo que faz parte da prática da maioria dos
médicos.
Para sua avaliação, é
necessário que o pediatra tenha conhecimentos básicos de anatomia nas
diferentes faixas etárias e das alterações que podem ser encontradas na imagem
do tórax.
Apesar de ser um exame
simples e habitualmente realizado, não é isento de riscos. Dada a maior
vulnerabilidade das crianças a efeitos somáticos tardios, bem como a efeitos
genéticos provocados pelos exames que utilizam radiação ionizante (raios X),
quando comparados com os adultos, todos os esforços devem ser efetuados na
tentativa de manter as doses mínimas necessárias para a realização desse tipo
de exame.
Segundo dados da United
Nations Scientific Committe of Effects of Atomic Radiation (Unscear), estima-se
que muitos dos exames radiológicos solicitados são desnecessários. Cada exame
solicitado deve ser justificado e coerente com a investigação. Isso é
importante e deve ser enfatizado para os colegas em início de carreira, pois
esse é o grupo de médicos que tem maior tendência a requisitar exames
radiológicos.
Introdução
à radiologia
Para iniciar o estudo das
radiografias de tórax, é necessário conhecer as incidências radiológicas
apropriadas para cada caso. As incidências mais solicitadas na emergência são:
frontal (PA ou AP) e perfil. Os termos AP (anteroposterior) e PA
(posteroanterior) referem-se à direção da penetração dos raios, de sua fonte ao
filme.
Por convenção, a radiografia
frontal de rotina é realizada com o paciente em posição ortostática e em
inspiração profunda. Os raios X são direcionados horizontalmente e a fonte de
radiação é posicionada a 1,80 m do filme, que deve estar em contato próximo com
a região a ser radiografada. Essa é a radiografia de tórax em PA, na qual os
raios atravessam o corpo do paciente de trás para frente (Figura 1).
Crianças pequenas que não
conseguem colaborar e pacientes acamados ou em estado grave realizam a radiografia
de tórax em AP. Esse exame é realizado geralmente com uma unidade de raios X
portátil, e o filme é posicionado no dorso do paciente. Os feixes de raios X
atravessam o paciente de frente para trás. O decúbito dorsal é usado por ser
mais confortável que o ventral e porque as crianças se movimentam menos quando
podem observar ao seu redor.
A incidência PA é preferível
e diferencia-se da AP por ser mais nítida, apresentar menor magnificação das
estruturas, principalmente do coração, e por ser feita em inspiração profunda.
A magnificação das imagens ocorre porque os raios X são divergentes. Isso
acontece de forma mais evidente quanto mais próximo estiver o paciente da
fonte. Como as unidades de raios X portáteis são menos potentes e geralmente o
espaço ao redor dos leitos é limitado, a fonte de radiação é posicionada a uma
distância menor do paciente, o que piora a nitidez. Além disso, quando a
radiografia é realizada em expiração, a vasculatura pulmonar se torna mais
evidente, o pulmão aparece mais claro e o coração fica elevado e parece maior,
podendo levar a interpretações equivocadas.
Figura 1 Radiografia de
tórax normal em PA apontando as principais estruturas anatômicas identificáveis.
A incidência em perfil deve
ser solicitada junto com a PA. Por convenção, ela é obtida com o lado esquerdo do
paciente contra o filme e os raios X atravessam o paciente da direita para a
esquerda (Figura 2).
O decúbito lateral (esquerdo
ou direito) com raios horizontais geralmente é solicitado na suspeita de
líquido na cavidade pleural, em razão da mudança da posição do líquido com a
alteração do decúbito. O paciente é colocado em decúbito lateral sobre o lado a
ser examinado e o feixe entra em sentido horizontal.
Após definir a incidência, o
pediatra geral deve ser capaz de avaliar a qualidade técnica do exame. Três
parâmetros devem ser observados:
Figura 2 Radiografia de
tórax normal em perfil apontando as principais estruturas anatômicas identificáveis.
AE = átrio esquerdo; AO =
arco aórtico; AP = artéria pulmonar; VD = ventrículo direito;
VE = ventrículo esquerdo.
1. Se a dose de radiação
aplicada foi adequada: em uma boa radiografia, os pulmões não devem estar
completamente escurecidos. Deve-se visualizar a sombra da coluna vertebral
apenas em suas porções superiores (até 2 corpos vertebrais abaixo da projeção
da clavícula), e os vasos do hilo pulmonar devem ser facilmente identificáveis.
2. Se o paciente estava em
inspiração profunda: o ideal é que o exame seja realizado em apneia
inspiratória profunda. Quando o exame é feito nessa condição, podem ser visualizadas de 7 a 9
costelas posteriores projetando-se sobre os campos pulmonares.
3. Se o paciente estava bem
posicionado, centrado: para que o exame esteja bem centrado, as bordas mediais
das clavículas devem estar eqüidistantes do centro da coluna (processos
espinhosos). Além disso, as escápulas não devem se sobrepor às imagens
pulmonares.
Não existe uma forma única
para a interpretação da radiografia simples de tórax, porém uma sistematização
da avaliação é sempre recomendada, com o intuito de evitar o esquecimento de
algum item a ser observado.
É sugestão dos autores
começar pela parte superior do abdome, seguir para a caixa torácica (partes
moles e ossos), depois para as estruturas do mediastino, do pulmão, da pleura,
dos seios costofrênicos e do diafragma. Cada pulmão deve ser observado
individualmente e, depois, comparados um ao outro em busca de assimetrias.
A interpretação da
radiografia simples de tórax é realizada com a identificação das estruturas
radiográficas por meio das diferentes densidades do tecido irradiado, conforme
descrito na Tabela 1.
Os contornos do mediastino e
do diafragma tornam-se radiologicamente visíveis, por causa do seu contraste
com o pulmão aerado contíguo.
O coração, a aorta e o
sangue apresentam densidade intermediária, da mesma forma que o pulmão doente,
sem ar. Assim, duas estruturas distintas, mas com a mesma densidade, estando em
contato direto, não podem ser diferenciadas.
Tabela
1 Apresentação da imagem de acordo com o tecido irradiado
Tecido irradiado
|
Densidade
|
Ar
|
Hipodenso
|
Gordura
|
Densidade
intermediária (menor que a água)
|
Tecidos
não gordurosos e fluidos corporais como o sangue
|
Densidade
intermediária (maior que a água)
|
Ossos
e corpos metálicos
|
Hiperdenso
|
Sinais
A borda cardíaca fi cará mal
definida se houver contato anatômico do coração com a condensação de uma
pneumonia, com tumores mediastinais ou derrame pleural. Esse é o chamado sinal
da silhueta, caracterizado pelo apagamento do contorno de uma estrutura que
está em contato com outra de densidade semelhante. As bordas direita e esquerda
do coração e a aorta ascendente são anteriores, enquanto o botão aórtico e a
aorta descendente são posteriores.
Assim, o borramento da borda
direita do coração significa que há comprometimento do lobo médio (LM), que
está em contato anatômico com essa estrutura. Quando há uma condensação na
mesma localização, mas sem perda da definição do contorno cardíaco, a lesão é
de lobo inferior, que tem localização posterior. Do lado contralateral, a
língula tem posição muito semelhante ao lobo médio, mantendo contato direto com
a maior parte da borda esquerda do coração. A porção superior da borda cardíaca
esquerda está em contato com o segmento anterior do lobo superior esquerdo (LSE),
enquanto o segmento ápico-posterior do LSE está em contato com o botão aórtico
(Figura 3).
O mesmo raciocínio pode ser
utilizado nas imagens em perfil, nas quais é possível a identificação do
diafragma direito em sua totalidade e apenas a metade posterior do diafragma
esquerdo. A parte anterior do diafragma esquerdo está naturalmente apagada, em
virtude do contato anatômico com o coração.
Figura 3 Condensação que
borra a margem cardíaca direita e sugere localização no LM.
Sinal
do broncograma aéreo
A árvore brônquica
intrapulmonar não é visualizada habitualmente em uma radiografia simples, por
apresentar paredes fi nas e estar preenchida por ar e circundada pelo ar
alveolar. É necessário que o brônquio esteja cercado por estruturas de
densidade diferente para ser visualizado. Quando isso ocorre, é chamado
“broncograma aéreo”. A visualização desse sinal demonstra lesão alveolar com a
substituição do ar pulmonar por outro material de densidade diferente (edema,
pus, sangue, etc.). O broncograma aéreo não estará presente em situações em que
o brônquio está repleto de secreção, destruído ou congenitamente ausente
(Figura 4).
Colapso
lobar/segmentar
Ocorre quando há redução de
volume do lobo ou do segmento pulmonar, decorrente de obstrução, compressão ou
contração. O deslocamento das cissuras em direção à área colapsada, o
aparecimento de brônquios e estruturas vasculares aglomeradas e a mudança de
posição de uma “estrutura de referência” (um nódulo, granuloma, etc.) são
sinais diretos de colapso. O deslocamento do hilo pulmonar (o esquerdo é
naturalmente mais alto que o direito, portanto a alteração de seu nível pode
indicar colapso pulmonar), a elevação do diafragma do lado lesado e o
deslocamento de estruturas mediastinais para o lado da lesão são sinais indiretos
do colapso. Carcinoma broncogênico, corpos estranhos, doenças inflamatórias,
compressão (aneurisma, linfonodos aumentados, tumores mediastinais e
cardiomegalia), presença de secreções e cicatrização de processos inflamatórios
crônicos podem causar colapso pulmonar.
Figura 4 Broncograma aéreo.
Visualização de ar dentro dos brônquios circundado por opacificação alveolar do
parênquima, em um caso de pneumonia lobar.
Classificação
das lesões pulmonares
As alterações radiológicas
pulmonares podem ser classificadas em quatro categorias principais:
• aumento da densidade
pulmonar;
• diminuição da densidade
pulmonar;
• atelectasia;
• anormalidades pleurais.
A maioria das doenças que
aumentam a densidade pulmonar acomete os espaços alveolares e o tecido
intersticial de forma variável. Todavia, é interessante identificar três
padrões radiológicos gerais, dependendo do componente que predomina: doença
alveolar, doença intersticial e doença mista.
Define-se consolidação
parenquimatosa como a substituição do ar existente nos alvéolos por, por
exemplo, líquido, células ou uma combinação dos dois. A doença alveolar
caracteriza-se nas radiografias de tórax pela presença de uma ou mais imagens
opacas, algumas homogêneas, causando apagamento dos vasos pulmonares, com
pequena ou nenhuma perda de volume. Os contornos das opacidades são mal definidos,
exceto no ponto de contato com a pleura, sendo possível a identificação de
broncogramas aéreos.
O interstício é uma rede de
tecido conectivo que dá suporte aos pulmões e, normalmente, não é visível na
radiografia simples de tórax. Compreende as paredes de brônquios e alvéolos,
além dos septos interlobulares e do tecido que acompanha brônquios e vasos
pulmonares. Na avaliação das doenças intersticiais, é importante observar a
perda do contorno vascular habitual por alteração da arquitetura do
interstício. Várias doenças podem causar alterações intersticiais (doenças
intersticiais), que se manifestam como micronódulos, opacidades reticulares ou
alterações reticulonodulares.
O padrão micronodular é
decorrente de múltiplos nódulos de 1 a 5 mm, que podem se tornar coalescentes,
que ocorrem por causa da expansão do interstício de maneira quase esférica,
secundária à presença de infiltrado celular, de tecido fibroso ou de ambos. São
exemplos desse padrão as doenças infecciosas, como a tuberculose miliar e a
pneumocistose.
O padrão reticular, por sua
vez, caracteriza-se por inúmeras imagens lineares entrelaçadas que lembram uma
rede. Ocorre, por exemplo, no edema pulmonar, nas infecções virais e na
linfangite.
O padrão reticulonodular é o
mais frequente dos três, caracterizando--se por uma mistura dos dois primeiros
padrões, com micronódulos associados a opacidades lineares. É encontrado em
infecções, pneumopatias intersticiais e neoplasias.
A densidade pulmonar
diminuída pode ser resultante de hiperinsuflação obstrutiva sem destruição
pulmonar, como na asma ou em obstruções por aspiração de corpo estranho; no
aumento do volume de ar associado à diminuição de sangue no tecido, como no
enfisema pulmonar; e na redução do volume de sangue e na ausência de
hiperinsuflação, como no tromboembolismo pulmonar.
A atelectasia representa o
colapso de parte ou de todo o pulmão com desvio do mediastino para o lado da
região colapsada. A radiografia evidencia regiões pulmonares radiodensas com
desvio das estruturas mediastinais em direção à lesão nos casos graves. Podem
existir os sinais diretos e indiretos de colapso. Atelectasias laminares
ocorrem quando uma população de alvéolos (geralmente nas bases) está
hipoventilada por obstrução (impactação mucoide) ou por redução da
expansibilidade pulmonar decorrente de compressão (ascite, cirurgias
abdominais, decúbito, etc.) (Figura 5).
Dentre as anormalidades
pleurais, os achados mais importantes são o derrame pleural e o pneumotórax.
Figura 5 Atelectasia em
segmento anterior do lobo superior direito.
No derrame pleural, a
periferia da base de cada cavidade pleural forma um sulco bastante profundo ao
redor do hemidiafragma correspondente. Esse sulco é chamado seio ou ângulo
costofrênico. O seio costofrênico tem quatro porções: anterior, posterior,
lateral e medial. A porção mais profunda e mais caudal é o seio costofrênico
posterior. Esta é uma das razões que justifica a radiografia de perfil para ter
certeza da ausência de derrame pleural (Figura 6). Derrame pleural é a invasão
do espaço pleural por coleção líquida, podendo ser este livre ou septado. Na
dúvida entre presença de líquido ou espessamento pleural, está indicado o uso
da incidência em decúbito lateral com raios horizontais ou ultrassonografia.
O derrame pleural na
radiografia em PA pode aparecer de quatro formas:
• preenchendo os seios
costofrênicos;
• formando um menisco
lateralmente com curvatura voltada para cima;
• ocultando-se na região
subpulmonar;
• formando opacidades
periféricas em “calota” quando está septado ou encistado (derrames inflamatórios).
O derrame pleural
frequentemente apresenta uma borda superior côncava, ou menisco, que parece
mais alta lateral do que medialmente. De modo contrário, ao colapso pulmonar, o
derrame pleural desvia as estruturas pulmonares para o lado oposto. Já o
derrame subpulmonar fica retido entre o diafragma e o pulmão. Pode-se
assemelhar à elevação do hemidiafragma em vez da imagem do menisco curvo. Para
diferenciar o derrame subpulmonar da elevação do diafragma à direita, deve-se
observar a distância entre a bolha gástrica e a cúpula do diafragma, que
geralmente estão em contato íntimo.
Figura 6 Derrame pleural
claramente visualizado em decúbito lateral esquerdo.
No pneumotórax, além das
incidências em PA e perfil, o decúbito lateral com o lado afetado para cima
pode ajudar no diagnóstico. Nos casos de pneumotórax de pequeno volume, é útil
a realização da radiografia expirada para facilitar a visualização da linha da
pleura visceral.
O pulmão parece estar
deslocado da parede torácica, não havendo trama vascular em sua periferia. O
sinal do sulco profundo é importante, visto que pode ser o único indício da
presença de ar no espaço pleural. Pacientes com pneumotórax em posição
ortostática têm o ar pleural preferencialmente ocupando as regiões
superolaterais do hemitórax, sendo a sua visualização relativamente facilitada.
No entanto, pacientes em posição supina têm o ar desviado para regiões mais
basais e mediais, dificultando a sua visualização. O sinal descrito ocorre
justamente na posição supina e representa a hiperluscência e aprofundamento do
ângulo costofrênico.
Artefatos
e pseudopneumonias
A realização do exame
radiológico em crianças apresenta algumas dificuldades técnicas de acordo com a
faixa etária. Lactentes normalmente ficam agitados durante o exame e necessitam
de imobilização para realizá-lo.
A radiografia é feita com o
paciente em decúbito dorsal ou sentado, por ser menos incômodo e porque as
crianças se movimentam menos quando podem observar o que está ocorrendo. Além
das dificuldades técnicas, existem as diferenças fisiológicas e anatômicas das
crianças que podem contribuir para diagnósticos inexistentes.
A familiaridade com esses
infiltrados “falsos” ajuda na prevenção de diagnósticos errados e tratamentos
desnecessários.
Um dos diagnósticos
equivocados mais frequentes é a pneumonia em lobo médio. As estruturas hilares
normais à direita podem, em alguns casos, provocar assimetria e ser
interpretadas como infiltrados no lobo médio. A radiografia em perfil mostra
que o infiltrado não existe.
Em condições basais, em uma
radiografia AP adequada, a cúpula do hemidiafragma direito de um recém-nascido
encontra-se aproximadamente no nível do 8o arco costal; aos 6 meses, no 8o
espaço intercostal; com 1 ano de idade, no 9o arco costal; ao final dos 10 anos
de idade, já está no nível da 10a costela. Na hipoaeração, a cúpula do
hemidiafragma localiza-se pelo menos um espaço acima do mencionado
anteriormente e, na hiperaeração, pelo menos um espaço abaixo.
A radiografia feita em expiração
pode mostrar falsos infiltrados, que na verdade são simplesmente as estruturas
normais dos pulmões que ficam mais evidentes quando comparadas com a radiografia
em inspiração profunda.
A rotação do paciente pode
resultar em distorção geométrica e superposição de estruturas.
O timo, muitas vezes,
contribui com o aumento do mediastino anterior até aproximadamente os 3 anos de
idade, porém pode permanecer até o início da adolescência. Um timo grande é
comumente diagnosticado como cardiomegalia ou massa mediastinal. Quando é
triangular (em “vela de barco”) e, portanto, na forma típica do timo, não pode
ser confundido com pneumonia (Figura 7). O perfil revela o timo em mediastino
anterior, com o restante das estruturas sem anormalidades.
Diferenças
anatômicas
As vias periféricas dos
lactentes são menores que as dos adultos, e as vias colaterais de ventilação
são menos desenvolvidas. As vias aéreas dos lactentes são menos propensas a
colapsar. Eles apresentam um número maior de glândulas. Por todos esses
motivos, suas vias aéreas são mais suscetíveis a estreitamento inflamatório do
que as vias aéreas dos adultos.
Em crianças maiores e
adultos, as infecções acometem mais os interstícios e os alvéolos. Já nos
lactentes, provocam obstrução periférica e angústia respiratória
desproporcionalmente grave. Isso é revelado por radiografias com hiperinsuflação
generalizada com irregularidades focais de aeração que refletem atelectasia
secundária a rolhas de muco. Essa obstrução de pequenas vias aéreas é a
manifestação mais comum de infecção respiratória baixa em neonatos e lactentes.
Figura 7 Timo em forma de
“vela de barco”.
Nos parágrafos seguintes,
listam-se brevemente alguns dos principais diagnósticos radiológicos na sala de
emergência com suas mais importantes características.
Criança
sibilante
A radiografia não deve ser
feita durante o choro e deve ser idealmente em apneia inspiratória.
Radiografias em expiração
são úteis quando se suspeita de aspiração de corpo estranho. Ocorre retenção do
ar no local da obstrução com hipertransparência focal e diferença de densidade
entre os pulmões. Se a obstrução é completa, ocorre atelectasia distal (Figura
8).
Crianças com sibilos de
origem cardiogênica apresentam área cardíaca aumentada, aumento variável das
estruturas vasculares no mediastino e hiperinsuflação com hemidiafragma abaixo
do 9o arco costal.
Hiperinsuflação associada a
feixes de densidade anormal (atelectasias) é muito sugestiva de bronquiolite.
Pode haver retificação e deslocamento inferior do diafragma (até abaixo da 9a
costela) e aumento do espaço retroesternal no perfil. O espessamento da parede
dos brônquios associado às atelectasias dá um aspecto “sujo” aos pulmões.
Figura 8 Observa-se o
aprisionamento de ar em decorrência de corpo estranho endobrônquico à direita e
a grande diferença de densidade entre os dois pulmões.
Na criança com asma, a
típica radiografi a apresenta espessamento da parede brônquica com acentuação
da trama pulmonar central. Pulmões hipertransparentes com diafragma retifi cado
e/ou rebaixado e importante aumento da região hilar também são característicos.
Atelectasias, condensações e pneumomediastino (imagem radiotransparente em
faixa linear às estruturas mediastinais) representam complicações nas crises
asmáticas graves (Figura 9).
Pneumonias
e seus agentes
Micoplasma
É visualizada consolidação
lobar ou segmentar com envolvimento habitual dos lobos inferiores. Ocorre infi
ltrado reticular fi no na fase aguda, bem como áreas de dilatação brônquica e
acinar que sugerem pneumatoceles discretas. Sabe-se que 25% dos pacientes têm
adenopatia hilar (Figura 10).
Figura 9 Paciente com asma.
Pode-se observar hipertransparência dos lobos superiores e imagem sugestiva de
pneumomediastino (seta).
Figura 10 Infiltrado
reticular com adenite peri-hilar e dilatações brônquicas (seta).
Vírus
sincicial respiratório (VSR)
Em casos de VSR, é
encontrada hiperinsuflação dos pulmões com infiltrado peri-hilar variável.
Atelectasias subsegmentares são comuns e sugerem rolhas de muco. A melhora
radiológica não é tão rápida quanto a clínica e pode demorar até 2 a 5 meses.
Vírus
parainfluenza
São vistas imagens
inespecíficas com infiltrados peri-hilares lineares e espessamento das paredes
brônquicas. Ocorrem também infiltrado pulmonar difuso em 50% e adenopatia hilar
em 12% (Figura 11).
Adenovírus
Ocorrem infiltrado
peri-hilar, linear ou reticulado bilateral, infiltrados alveolares difusos e
espessamento peribrônquico. Cronicamente, pode surgir bronquiectasia associada
à atelectasia crônica e hipertransparências focais (bronquiolite obliterante).
Chlamydia
Visualiza-se infiltrado
intersticial bilateral difuso e pode ter aspecto algodonoso. As alterações
radiológicas são mais graves que as alterações clínicas (Figura 12).
Figura 11 Infiltrado difuso
e peri-hilar com hiperinsuflação em quadro de pneumonia viral.
Figura 12 Importante infiltrado
difuso bilateral em pneumonia por Chlamydia.
Haemophilus
influenzae
Em 75% dos casos, há
consolidação lobar ou segmentar. A maioria dos pacientes (75%) tem derrame pleural
importante e 25% tem infiltrado broncopneumônico sem derrame associado. As
consolidações desaparecem após 2 semanas e podem aparecer pneumatoceles na fase
de resolução.
Streptococcus
pneumoniae
Visualiza-se consolidação
alveolar homogênea do parênquima pulmonar, quase sempre contígua com a pleura.
Empiema e/ou derrame pleural podem existir. A pneumonia redonda acomete quase
exclusivamente crianças, ocorre no segmento superior de um dos lobos inferiores
em contato com a pleura e pode ser confundida com neoplasia (Figura 13). Lesões
radiológicas desaparecem em 10 a 14 dias de tratamento. Pneumatoceles podem se
formar durante a resolução.
Staphylococcus
aureus
Apresenta consolidações que
se desenvolvem rapidamente com grande extensão. Ocorre derrame pleural (ou
empiema) em 90% dos casos. Pneumatoceles aparecem em 40 a 60% após 1 semana da
doença e desaparecem após 6 semanas com tratamento. Podem romper
espontaneamente e formar pneumotórax em 70% dos casos (Figura 14).
Figura 13 Pneumonia redonda
(seta).
Figura 14 Consolidação à
direita com pneumatoceles (seta) e derrame pleural em pneumonia estafilocócica.
Outros
Tuberculose
primária
A tríade clássica é composta
por um foco primário de infecção com consolidação de tamanho variável em um
único lobo, hipertrofia unilateral dos linfonodos hilares que drenam esse lobo
e derrame pleural ipsilateral pequeno a moderado. Mais raramente, podem ocorrer
disseminação endobrônquica com consolidação alveolar bilateral e disseminação
hematogênica com infiltrados miliares. As lesões radiológicas demoram meses para
desaparecer. A cura pode deixar resíduos calcificados, que são achados frequentes
em radiografias de adultos.
Fibrose
cística
Visualiza-se hiperaeração
persistente com atelectasias segmentares ou lobares, iniciada nos lobos
superiores e que, conforme a evolução, se torna difusa. Ocorre pneumonia
bilateral crônica com bronquiectasias progressivas (imagens em anel de pérola)
e também hilos alargados refletindo adenite crônica. Em razão do enfisema
pulmonar franco, a silhueta cardíaca parece pequena. O cor pulmonale pode ser
suspeitado quando existe área cardíaca de tamanho normal ou aumentado, em
estágios fi nais da doença (Figura 15).
Figura 15 (A) Paciente com
fibrose cística que desenvolveu pneumomediastino e pneumotórax com enfisema
subcutâneo à direita (seta). (B) Bronquiectasia em detalhe (imagem em favo de
mel).
Bibliografia
1. Cook JV, Pettett A, Shah
K, Pablot S, Kyriou J, Fitzgerald M. Melhor prática em radiologia pediátrica.
Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006.
2. Edwards DK, Hilton SVW.
Radiologia pediátrica. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996.
3. Felson B. Radiologia do
tórax. 2.ed. Rio de Janeiro: Revinter, 1995.
Autores:
Lygia de Souza Lima Lauand, Aretusa Koutsohristos, Juliana Gamo Storni, Cassio
Gomes dos Reis Junior
Postar um comentário
Identifique-se para uma troca saudável