Fisioterapia motora na criança hospitalizada
Definição:
Desenvolvimento motor é o
processo de mudança no comportamento motor, o qual está relacionado com a idade
do indivíduo e com as experiências por ele vividas. Ocorre durante toda a vida
e sofre influências de fatores genéticos, formação intra-uterina e fatores
ambientais. A experiência vivenciada orienta o desenvolvimento estrutural do
cérebro, ou seja, as experiências iniciais da vida com o meio externo,
percebidos por seus sentidos (visão, audição, olfato, tato e paladar)
determinam a estruturação do cérebro, capacitando-o a criar e modificar
conexões e fornecer substrato para organização e funcionamento.
Durante
a infância, especialmente no primeiro ano de vida, se a criança for privada de
estímulos, como em hospitalizações prolongadas, o desenvolvimento poderá ficar
comprometido. Pois crianças que permanecem em repouso prolongado, no
leito ou em inatividade, frequentemente tem dor, fraqueza, resistência
diminuída e contraturas. Os efeitos do imobilismo já são bem conhecidos:
problemas musculoesqueléticos, circulatórios (trombose venosa profunda,
hipotensão postural), cutâneos (úlceras de pressão), respiratórios (pneumonia
hipostática), urinários, intestinais e psicológicos. É importante que o fisioterapeuta
conheça o desenvolvimento normal da criança para detectar atrasos e variações
da normalidade. O reconhecimento precoce e um plano de tratamento específico
podem prevenir incapacidades e deformidades.
Principais
aquisições no primeiro ano de vida
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RN a termo
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Hipertonia flexora
fisiológica de MMSS e MMII (bebê simpetrico)
Reação de
endireitamento cervical
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6º mês
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Apresenta controle
de cabeça em todas as posturas
Reação de apoio em
pé com MMII aduzidos
Reação de
paraquedismo
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1º mês
|
Marcha reflexa
RTCA mais
relacionado aos MMSS do que MMII (bebê mais assimétrico)
Inicia extensão da
cabeça em DV
Fixa olhar no objeto
Reação labiríntica
de retificação
Reação óptica de
retificação
Reação positiva de
apoio
|
7º mês
|
Permanece na posição
de gato com as mãos abertas
Senta sem apoio
Rola de prono para
supino
Tenta engatinhar
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2º mês
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Diminuição do tônus
flexor
Abasia e astasia
presentes
Consegue segurar
objetos, porém não solta voluntariamente
Puxado para sentar:
cabeça cai posteriormente
Apresenta sorriso
reativo
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8º mês
|
Consegue engatinhar
Puxa-se para ficar
em pé, com transferência de peso
Apresenta movimento
de pinça
Roda o tronco quando
sentado
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3º mês
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Mãos na linha média
Eleva e sustenta a
cabeça em DV
Puxado para sentar:
cabeça acompanha o movimento do tronco
Apresenta sorriso
espontâneo
Contração abdominal
ativa
|
9º mês
|
Permanece sentado
com MMII em extensão ou em “W”
Consegue agachar e
levantar
Consegue ficar em pé
|
4º mês
|
Apresenta
anterversão pélvica
Apóia antebraço em
DV
Alternância
simétrica entre flexão e extensão
Brinca com o próprio
corpo
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10º mês
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Reconhece-se no
espelho
Engatinha com objeto
na mão
Caminha com apoio em
MMSS
Intercala pé valgo e
varo
Consegue sentar
quando esta em pé ou em DD
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5º mês
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Rola de supino para
prono e para lateral
Leva os pés até a
boca
Senta com apoio
Solta os objetos
voluntariamente
Passa os objetos de
uma mão para outra
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11º mês
12º mês
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Consegue ficar em pé
com equilíbrio parcial
Apresenta marcha com
base alargada, sem balanço recíproco de MMSS
|
Os reflexos são reações automáticas desencadeadas por estímulos que impressionam diversos receptores e tendem a favorecer a adequação do indivíduo ao ambiente. À medida que evolui a maturação do sistema nervoso, os estímulos que desencadeiam reflexos vão provocando respostas menos automáticas, quando começa a marca do componente cortical. Eventos que levam à lesão cerebral podem produzir transtornos dessa série evolutiva. Então faz-se necessário o conhecimento do desenvolvimento neuropsicomotor normal (DNPM) como na tabela, em que identificamos os principais reflexos e reações encontradas nas crianças, bem como o momento de início e térmico de cada um deles.
Reflexos e Comportamento
Motor
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Dias
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Meses
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1
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2
|
3
|
1
|
2
|
3
|
4
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5
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6
|
7
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8
|
9
|
10
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11
|
12
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13
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14
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Reflexo Magnético
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X
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X
|
X
|
X
|
X
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Reação de Marcha
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X
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X
|
X
|
X
|
X
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Placing-reaction
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X
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X
|
X
|
X
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X
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Reflexo de Galant
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X
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X
|
X
|
X
|
X
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Reflexo Glabelar
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X
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X
|
X
|
X
|
X
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Fenômeno olhos de boneca
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X
|
X
|
X
|
X
|
X
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Reação postural cervical
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X
|
X
|
X
|
X
|
X
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Reflexo de Moro (1ª e 2ª fases)
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X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
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Manobras de Propulsão
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X
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X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
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Reflexo tônico-labiríntico (posição ventral)
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X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
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Reflexo tônico-cervical assimétrico
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X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
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Reflexo palmar de preensão
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X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
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Reflexo plantar de preensão
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X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
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Reflexo postural labiríntico
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X
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X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
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Reação da posição lateral
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X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
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Reação de Landau
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X
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X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
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Reações Posturais
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Cabeça sobre o corpo e corpo sobre a cabeça
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X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
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Início de erguer-se para sentar-se
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X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
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Rotação incipiente
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X
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X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
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Levantar a cabeça a partir da posição dorsal
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X
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X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
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Disposição para o salto
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X
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X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
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Reações de Equilíbrio
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Posição ventral
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X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
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Posição dorsal
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X
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X
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X
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X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
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No sentar-se com apoio para adiante
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X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
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||||||||
No sentar-se com apoio para o lado
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X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
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No sentar-se com apoio para trás
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
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Equilíbrio
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Em posição quadrupedal
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X
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X
|
X
|
X
|
X
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Ficar em pé com apoio
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X
|
X
|
X
|
X
|
X
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Ficar em pé sem apoio
|
X
|
X
|
X
|
X
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Andar com apoio
|
X
|
X
|
X
|
X
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|||||||||||||
Andar com equilíbrio sem apoio
|
X
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X
|
X
|
O tratamento fisioterapêutico baseia-se na avaliação conjunta com a equipe multiprofissional, com o propósito de identificar componentes patológicos ou detectar atrasos no desenvolvimento da criança em ambiente hospitalar, especialmente em internações prolongadas.
Objetivo:
O
objetivo do tratamento é transmitir e integrar maior quantidade possível de
experiências sensório-motoras normais, de maneira ativa, antes que os padrões
de movimento anormais se tornem habituais. Os efeitos positivos do exercício
incluem prevenção de disfunções, assim como desenvolvimento, melhora,
restauração ou manutenção da normalidade de força, resistência a fadiga,
mobilidade e flexibilidade, relaxamento, coordenação e habilidade.
Dessa forma, um programa de exercícios gradual,
pode ser iniciado tão logo o paciente se torne hemodinamicamente estável, mesmo
em uma unidade de terapia intensiva, com objetivos de melhora da função
cardiovascular, respiratória, fortalecimento, prevenção de osteoporose e
bem-estar psicológico.
As contraturas podem ser outro efeito da
imobilização, podendo envolver músculos e outros tecidos moles que rodeiam a
articulação provocando atrofia e incompetência funcional pelo desuso. Esse
efeito não é apenas a redução do tamanho do músculo, mas também uma redução no
movimento funcional, alongamento, resistência e coordenação.
A redução das contrações musculares nos membros
inferiores facilita a estase venosa em partes do corpo que reduzem a velocidade
da circulação. Esse fator somado a outros, predispõe à formação da trombose
venosa profunda. Como medidas de prevenção, podemos citar a compressão externa
intermitente dos membros inferiores, exercícios ativos e mobilização precoce.
Indicação:
Todos os
pacientes que estão internados no Complexo hospitalar – CTI Infantil,
Pediatria, Berçário Interno e Berçário Externo.
Contra Indicação:
Não
aplicável
Responsável:
Fisioterapeuta.
Descrição do procedimento:
A avaliação do quadro neurológico dos pacientes
pediátricos é necessária e a intervenção precoce nos casos com comprometimento
motor, assim que possível, evitará o agravo das sequelas.
Com
técnicas de manuseio adequado é possível manter os padrões de postura e movimentos
anormais sob o controle e, ao mesmo tempo, proporcionar ao bebê a experiência
de posturas e movimentos ditos normais, primeiramente dirigindo, acompanhando,
depois controlando o quanto for necessário, e finalmente retirando as mãos
gradualmente até a criança assuma os movimentos de forma mais
independente. O desenvolvimento de
componentes motores básicos, tais como controle cervical, controle de tronco,
estabilidade da cintura escapular e pélvica, deve ser enfatizado durante o
atendimento fisioterapêutico. Esses componentes permitirão o desenvolvimento
das reações de endireitamento, de proteção e equilíbrio, essenciais para
qualquer atividade funcional de locomoção e manipulação.
Durante
o atendimento deve-se avaliar o tipo de exercício a ser prescrito, seja ele
passivo, ativo, ativo-assistido ou resistido, adequando a terapia ao estado da
criança, sempre respeitando os limites da dor, estresse e da doença de base,
para não reforçar padrões anormais.
É
importante estimular as reações, e o gradual repasse do controle terapêutico da
postura e movimento em favor do autocontrole da criança.
Basicamente
são realizados alongamentos, mobilização passiva, ativa e ativa-assistida,
exercícios de resistência, co-contração de articulações.
Os exercícios são executados
nos planos anatômicos de movimentos ou em padrões diagonais descritos na
facilitação neuromuscular proprioceptiva. É indispensável instruir crianças,
pais e equipe quanto ao objetivo e as perspectivas do tratamento, integrando a
terapia à rotina da criança.
Portanto, estimular as crianças na realização de
trocas posturais, ortostatismo, deambulação, exercícios metabólicos, mudanças
de decúbito e ganho de força e resistência muscular, preservando, dentro dos
níveis de normalidade, as amplitudes de movimento e garantindo um adequado
desenvolvimento neuropsicomotor, é essencial para uma recuperação mais rápida,
alcançando melhor qualidade de vida e redução do período de internação.
Obs: Em alguns
casos de plaquetopenia extrema, as crianças não podem sair do leito, sendo
necessário restringir suas atividades de vida diária até a melhora do numero de
plaquetas. E cirurgias neurológicas requerem maior atenção, quanto as seqüelas
motoras e ao posicionamento adequado no leito. Cirurgias ortopédicas demandam
maiores cuidados quanto à questão motora e a restrições de posicionamentos, que
precisam ser discutidas em equipe e orientadas pelo cirurgião.
Uma intervenção fisioterapêutica precoce e de qualidade quase sempre
conduz à ausência ou diminuição dos prejuízos motores, alcançando melhor
qualidade de vida e redução do período de internação.
.
Pontos críticos e riscos:
Deve-se ter
cautela para não cansar ou desgastar o paciente através do posicionamento
prolongado.
Registro:
Ficha de evolução diária localizada
no prontuário do paciente.
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