Lúpus eritematoso sistêmico e fisioterapia
Lúpus Eritematoso Sistêmico
(LES) é uma doença inflamatória crônica, multissistêmica, de etiologia
desconhecida e de natureza auto-imune. (SATO, et al., 2002; VELÁZQUEZ, 2005).
Segundo Marck (2008), uma
pessoa que tem o LES desenvolve auto-anticorpos, ou seja, anticorpos que reagem
contra as suas células normais, podendo consequentemente afetar a pele, as
articulações, rins e outros órgãos, sendo por isso considerada uma doença
auto-imune, já que o organismo desenvolve uma resposta imunológica contra
componentes próprios aparentemente saudáveis.
Apresenta períodos de
remissões agudas e crônicas, podem apresentar distúrbios na imunidade humoral e
celular. Fatores genéticos, ambientais e hormonais podem desempenhar algum
desequilíbrio do sistema imune, com a produção de auto-anticorpos, alguns dos
quais comprovadamente participam da lesão tecidual (SATO, et al., 2002; AYACHE
e COSTA, 2005; VELÁZQUEZ, 2005).
Incidência
Cerca de 90% dos indivíduos
com lúpus são mulheres na idade reprodutiva, iniciando-se mais comumente entre
15 e 40 anos, numa proporção de nove a dez mulheres para um homem com idades
entre 15 e 40 anos, mas as crianças, sobretudo as meninas, homens e mulheres
idosos também podem ser afetados (SATO, et al., 2002; VELÁZQUEZ, 2005).
No Brasil, o único dado de
incidência de LES é na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, onde indicava uma
estimativa de 8,7 casos novos por 100.000 habitantes, no ano de 2000 (VILAR,
RODRIGUES e SATO, 2003).
Etiologia
O LES é uma doença complexa,
e sua causa é desconhecida, provavelmente tem como causa uma combinação de
genética, ambiente, e possivelmente fatores hormonais (SKARE, 2007; POLESE,
2009).
Características Clínicas
O acometimento de diversos
órgãos e/ou sistemas pode ocorrer de forma simultânea ou sequencial. A
frequência dos diversos acometimentos varia conforme a composição étnica e o
tempo de evolução da doença (POLESE, 2009).
Segundo Polese, (2009), cada
pessoa com LES tem sintomas levemente diferentes, que podem variar desde leves
a severos, e podem aparecer e desaparecer com o tempo. Porém, alguns dos
sintomas mais comuns de lúpus incluem artrite, febre sem explicação, e fadiga
extrema.
Podem aparecer feridas na
face, orelhas, braços, ombros, peito e mãos. Uma vez que muitas pessoas com
lúpus são sensíveis à luz solar, as feridas na pele geralmente aparecem
primeiramente ou pioram depois da exposição ao sol. Algumas pessoas também
apresentam dor de cabeça, tontura, depressão. Alguns sistemas do corpo também
podem ser afetados pelo LES, como: sistema renal, sistema respiratório, sistema
nervoso central, e sistema cardiovascular (COUTO, et al., 2008; POLESE, 2009).
Diagnóstico
O diagnóstico do LES pode
ser difícil, pode levar meses, ou até anos, para que os médicos reúnam os
sintomas para diagnosticar essa doença complexa com precisão. O diagnóstico é
baseado em exames clínicos e de laboratório.
Entre os critérios clínicos, o Ministério da Saúde (MS) relaciona a fotossensibilidade,
úlceras orais, artrite, nefrite, alterações neurológicas. Entre os critérios
laboratoriais, o MS aponta alterações hematológicas, imunológicas e anticorpo
antinuclear (SATO, et. al, 2002; POLESE, 2009).
Existem onze critérios
diagnósticos para o LES, e para confirmação deste é necessário que o paciente
apresente pelo menos quatro dessas características (SATO, et. al, 2002; POLESE,
2009).
- Eritema malar: eritema
fixo, plano ou elevado, sobre as eminências malares, tendendo a poupar sulco
nasolabial.
- Lesão discóide: placas
elevadas, eritematosas, com descamação ceratótica e crostículas; cicatrizes
atróficas podem aparecer em lesões antigas.
- Fotossensibilidade:
eritema cutâneo, às vezes maculopapular, como resultado de uma exposição solar.
- Úlceras orais: ulceração
oral ou nasofaringeana, indolor, observada pelo médico. Artrite: artrite não
erosiva, envolvendo duas ou mais articulações periféricas.
- Serosite: pleurite ou
pericardite documentada por exames radiológicos.
- Alteração Renal (Nefrite):
proteinúria maior que 0,5g/24 h, presente em 3 amostras, e/ou alterações no
sedimento urinário (hematúria, cilindros granulosos).
- Distúrbio neurológico:
convulsões e psicose (descartando distúrbios metabólicos, infecção ou uso de
medicações).
- Alterações hematológicas:
anemia hemolítica, auto-imune, com reticulocitose, ou Leucopenia: GB < 4.000
cel/mm3, em 2 ou mais ocasiões, ou linfopenia: linfócitos < 1.500 cel/mm3,
em 2 ou mais ocasiões ou trombocitopenia: plaquetas < 100.000 cel/mm3, na
ausência de drogas desencadeadoras.
- Alterações imunológicas:
presença de anticorpos, como anticardiolipina, ou de anticorpos contra DNA
nativo, ou de anticorpos contra antígeno nuclear Sm, ou teste para Lues
falsamente positivo, confirmado com teste de fluorescência, com anticorpo
contra o Treponema pallidum (FTAbs), negativo.
- Fator antinuclear (FAN):
títulos anormais de anticorpo antinuclear, por imunofluorescência ou teste
equivalente, na ausência de utilização de drogas indutoras de LES (SATO, et.
al, 2002; POLESE, 2009). A fisioterapia é utilizada para prevenir surtos ou
tratá-los quando ocorrem e também reduzir os danos aos órgãos e outros tecidos.
Tratamento
O tratamento do LES deve ser
de forma global, tendo como medidas gerais a educação do paciente e da família
quanto a gravidade da doença, os recursos para o seu tratamento, a importância
da atividade física. A necessidade de apoio psicológico, obter uma dieta
balanceada, evitar fotoproteção e o tabagismo também são medidas que devem ser
tomadas (POLESE, 2009).
Tratamento fisioterapêutico
Um dos motivos mais
importantes do tratamento fisioterapêutico é manter habilidade para as
atividades funcionais, o que depende da capacidade física do indivíduo, sujeita
a muitas variáveis, como, alterações na função cardiorrespiratória, força
muscular e flexibilidade (SKARE, 2007; POLESE, 2009).
Para grande maioria das
pessoas, um tratamento efetivo pode minimizar os sintomas, reduzir as inflamações
e manter as funções do corpo íntegras. Medidas preventivas podem reduzir os
riscos de uma crise. A focalização do tratamento é baseada em necessidades e
sintomas específicos de cada pessoa. Pelo fato das características e do curso
do Lúpus variar significativamente de pessoa para pessoa, é importante
enfatizar que uma avaliação médica constante é essencial para assegurar um
diagnóstico e tratamento adequados (NOGUEIRA, et.al, 2009).
Como o lúpus não é
incapacitante, salvo raras exceções, a fisioterapia em seu tratamento visa
prevenir problemas e restaurar o equilíbrio osteomuscular. O paciente deve
sempre fazer exercícios, para prevenir que a musculatura fique hipotrofiada.
Devem-se trabalhar todas as articulações do corpo, e estar sempre atento ao quadro
clínico do paciente, pois medidas fisioterápicas que podem aliviar algum dos
problemas decorrentes podem vir a ser uma contra indicação de algum outro
quadro clínico (NOGUEIRA, et. al, 2009).
Os programas de exercícios
para o LES devem enfatizar a força e a resistência, com exercícios aeróbicos de
baixo impacto. Os programas devem incluir fortalecimentos isotônicos e
isométricos da musculatura adjacente as grandes articulações e manutenção da
amplitude de movimento, mas se a necrose avascular estiver presente, apenas os
exercícios isométricos são indicados (SKARE, 2007; POLESE, 2009).
A diminuição da capacidade
aeróbica é comum nos pacientes com LES e é provável que sua causa seja o
descondicionamento dos músculos periféricos. O descondicionamento físico e a
fadiga rápida em pacientes com LES pode ser resultado da difusão danificada do
oxigênio nos músculos periféricos
inflamados nos pacientes com a doença ativa (SKARE, 2007; POLESE, 2009).
Embora o prognóstico de pacientes
com LES tenha melhorado muito nas últimas décadas, muitos pacientes continuam
não respondendo à terapêutica atualmente utilizada (NOGUEIRA, et al., 2009).
Geralmente pacientes
submetidos a tratamento fisioterapêutico junto com o tratamento medicamentoso e
apoio psicológico, apresentam um quadro mais estável da doença (SKARE, 2007;
NOGUEIRA, et al., 2009; POLESE, 2009).
Sugestão de protocolo fisioterapêutico
baseado em cinesioterapia e hidrocinesioterapia.
Cinesioterapia
Fortalecimento de flexores
de ombro com bastão sem carga (2x10);
Fortalecimento dos membros superiores
por meio das diagonais do método Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva com
faixa elástica verde (2x10);
Fortalecimento de bíceps
braquial com halter de 1kg (2x10);
Fortalecimento de músculos
rotadores internos e externos de ombro com faixa elástica rosa (3x10);
Fortalecimento dos músculos
dorsiflexores e platiflexores de tornozelo com faixa elástica verde (2x10);
Fortalecimento de músculos
adutores de coxa com bola (2x10);
Fortalecimento dos flexores
e extensores de joelho com caneleira 1kg (2x10);
Fortalecimento de punhos com
halter 500g (2x10);
Fortalecimento de dedos com
digiflex amarelo e fortalecedor de dedos (1x10);
Mobilizações articulares
passivas de tornozelos, punhos, metacarpos, metatarsos e falanges;
Exercícios de equilíbrio,
propriocepção e transferência de peso no balance pad e cama elástica;
Pompagens das regiões
cervical, escapular, peitoral e sacral;
Alongamentos ativos globais
no final da sessão dos principais grupos musculares dos membros superiores e
inferiores e de tronco (15 segundos cada grupo muscular);
Hidrocinesioterapia
Marcha estacionária (3
minutos);
Fortalecimento de músculos flexores,
extensores, adutores e abdutores de quadril, flexores e extensores de joelhos,
flexores, extensores, adutores e abdutores de ombro com flutuadores (2x10);
Mini agachamentos,
progredindo para mini agachamentos associado a fortalecimento de músculos
adutores de coxa com uma bola de voleibol entre as coxas (2x10);
Bicicleta estacionária em
decúbito dorsal com flutuadores na região escapular (5 minutos);
Saltos alternados (2x10);
Exercício de “sky
cross-country” (2 minutos), que são movimentos de flexão e extensão dos membros
superiores e inferiores contralaterais, alternadamente;
Caminhada em torno da
piscina de frente e de costas (2 voltas ao redor da piscina);
Alongamentos finais dos
principais grupos musculares dos membros superiores e inferiores e de tronco,
de modo ativo assistido (15 segundos cada grupo muscular).
Fonte: Atuação
fisioterapêutica no tratamento de lúpus eritematoso sistêmico - FERREIRA,
Natalie Cardoso de Almeida e ZUTTIN, Roberta silva - internet
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