Padrões respiratórios patológicos
Cargas respiratórias
internas, induzidas por doenças do sistema respiratório, podem alterar o padrão
respiratório. A adição de carga externa, durante a inspiração, tem sido
utilizada para simular as desordens do sistema respiratório, caracterizar os
mecanismos do sistema ventilatório e avaliar a tolerância do indivíduo às
cargas adicionadas. Calabrês e cols. demonstraram que a adição de resistência
linear (3,57; 5,75; 8,76e13,13 cmH20 / L/ s) durante a inspiração, em sujeitos
normais, alterou de forma significativa todas as variáveis respiratórias. O VC,
TTOT, TI, TE e TII TTOT e o C02 expirado aumentaram com a carga inspiratória, e
o fluxo diminuiu.
Movimento Paradoxal do Tórax
Superior
Pacientes com fraqueza ou
paralisia do músculo escaleno, disponível para estabilização do tórax, podem
apresentar depressão da região torácica superior quando o diafragma se contrai.
O aumento da negatividade pleural durante a contração diafragmática deprime a
região torácica superior. Esse tipo de respiração pode ocorrer em pacientes com
lesão medular ou em recém-nascidos, com desconforto respiratório, que ainda não
desenvolveram suporte adequado da caixa torácica.
Movimento Paradoxal do Tórax
Inferior
Pacientes portadores de
DPOC, com hiperinsuflação pulmonar, apresentam aplainamento do diafragma. As
fibras musculares, que normalmente apresentam-se paralelas à parede torácica
formando a zona de oposição, tornam-se direcionadas centralmente. Devido ao
reposicionamento das fibras, a contração diafragmática produz redução do
diâmetro transverso do tórax, processo denominado sinal de Hoover.
Respiração Paradoxal ou Movimento
Paradoxal do Abdome
Durante a respiração tranquila,
o tórax e o abdome movem-se sinergicamente, aumentando ou diminuindo o volume
de ambos os compartimentos durante a inspiração e expiração, respectivamente. A
respiração paradoxal é caracterizada pela depressão abdominal e ampliação do
deslocamento do tórax superior, durante a inspiração, devido à grande ativação
dos músculos acessórios inspiratórios. Esse padrão respiratório pode ocorrer
nas desordens respiratórias graves, em pacientes portadores de DPOC ou asma, e
em pacientes neurológicos com disfunção dos músculos intercostais (lesão
cervical baixa ou torácica alta). A respiração paradoxal pode indicar também
paresia ou paralisia diafragmática.
Respiração Assincrônica
A respiração assincrônica é
caracterizada pelo padrão anormal de recrutamento dos músculos inspiratórios,
favorecendo o aparecimento de um intervalo de tempo entre os movimentos do
tórax e abdome. Esse tipo de respiração pode ser observado em pacientes
portadores de DPOC, durante exercícios com os membros superiores.
Respiração Alternada
A respiração alternada é uma
importante característica de fadiga dos músculos inspiratórios. Essa respiração
caracteriza-se pela alternância entre a contribuição do diafragma e os músculos
acessórios durante o trabalho inspiratório, quando cargas fatigantes são
impostas aos músculos respiratórios, prevenindo ou atrasando o início da
fadiga.
Expiração Forçada
Os músculos abdominais são
considerados expiratórios devido ao aumento do recolhimento elástico passivo
dos pulmões, durante a expiração forçada. A contração dos músculos abdominais ,
durante a expiração, alonga o diafragma e diminui o seu raio de curvatura,
colocando-o em uma posição favorável na curva comprimento-tensão. Essa melhora
da vantagem mecânica do diafragma é significante em posição ortostática e
principalmente durante os exercícios.
Pacientes que apresentam
obstrução ao fluxo aéreo por secreção, broncoespasmo, edema, hipertrofia e
hiperplasia das glândulas da submucosa e perda de recolhimento elástico pulmonar
(enfisema pulmonar) também podem apresentar a expiração forçada. Nessa
situação, esses músculos podem ter, também, uma ação facilitatória durante a
inspiração, diminuindo a sobrecarga dos músculos inspiratórios. Segundo Clanton
e Dias, o relaxamento dos músculos abdominais previamente a inspiração, diminui
a pressão abdominal, favorecendo a descida passiva do diafragma. Essa situação
pode ser demonstrada em pacientes com sobrecarga dos músculos inspiratórios.
Dispneia
Os mecanismos fisiológicos
da dispneia têm sido relacionados com as características intrínsecas dos
músculos inspiratórios. Correlações limitadas têm sido encontradas entre dispneia
e alteração da função pulmonar. Importantes determinantes para o aparecimento
da dispneia são a pressão gerada pelos músculos inspiratórios (PI), sua
capacidade máxima de gerar a força (Pimáx) e a relação entre esses dois
fatores. Desse modo, a dispneia aumenta em presença de sobrecarga dos músculos
inspiratórios e também quando a Pimáx se reduz. A duração da contração dos
músculos inspiratórios (TI) em relação ao tempo total do ciclo respiratório
(TTOT) e o aumento da frequência respiratória também relacionam-se com a
sensação de dispneia. Beslin e cols. demonstraram, em voluntários normais,
durante trabalho ventilatório aumentado (60% da Pimáx), uma correlação inversa
entre dispneia e atividade diafragmática e uma correlação positiva entre
dispneia e recrutamento dos músculos da parede torácica.
Ortopneia
A ortopneia é um sintoma
comum na insuficiência ventricular esquerda. Os pacientes apresentam aumento
acentuado da resistência das vias aéreas na posição supina, a qual não pode ser
atribuída à redução do volume pulmonar e broncoconstrição induzida vagalmente.
Na ausência de insuficiência
cardíaca, a ortopneia pode ser um indicador de disfunção dos músculos
inspiratórios. Geralmente pacientes com paralisia diafragmática ou portadores
de DPOC grave respiram melhor na posição sentada. Na posição supina os volumes
pulmonares são menores e o diafragma deve vencer a pressão abdominal durante a
inspiração. Desse modo, pacientes com fraqueza diafragmática ou com abdome globoso
podem hipoventilar durante essa posição.
Platipneia
Platipneia é um sintoma raro
de dispneia, em posição sentada, que é aliviada na posição supina.
A zona pulmonar I de West
corresponde à região onde a pressão alveolar excede à pressão na artéria
pulmonar. Desse modo, essa região praticamente não é perfundida, gerando, em
condições normais, pequenas áreas de espaço morto alveolar, na posição sentada
ou ortostática. Em determinadas situações, esse fato pode ser agravado e o
aumento do espaço morto alveolar predispõe ao desequilíbrio da relação ventilação/
perfusão, hiperventilação, aumento do trabalho respiratório e dispnéia. Os
estados patológicos associados à platipnéia são: shunt intracardíaco,
pós-pneumectomia e doenças intersticiais.
Respiração de Cheyne-Stockes
É uma forma de respiração
periódica com alteração crescente e decrescente da amplitude respiratória
(aumento do volume corrente) com intervalos de apneia e hipopneia.
Esse tipo de respiração pode
ser observado em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva (fração de
ejeção < 40%), desordens neurológicas (hemorragia intracerebral, infarto e
embolia, tumores, meningite, encefalite e trauma), idosos, recém-nascidos
prematuros e pessoas saudáveis em grande altitude.
Os mecanismos responsáveis
por esse tipo de distúrbio não estão bem estabelecidos, mas várias teorias são
propostas:
(1) aumento da sensibilidade
do sistema nervoso central para as mudanças da PaO² (pressão parcial de
oxigênio no sangue arterial) e PaCO² (pressão parcial de dióxido de carbono no
sangue arterial; (2) redução da reserva corporal total do O² e PaCO² , que
resulta em instabilidade das pressões parciais dos gases arteriais em resposta
às variações de ventilação; (3) aumento do tempo circulatório entre a troca gasosa
na membrana alveolocapilar e os quimiorreceptores periféricos.
Fonte: Bases da fisioterapia
respiratória terapia intensiva e reabilitação - Maria da Glória Rodrigues
Machado
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